Os meses que se seguiram (setenta e dois dias para ser exato) criaram uma rotina cruel, que deixaria marcas para sempre em todos. As visitas aconteciam diariamente as 14 horas e, enquanto minha esposa ficava no hospital ate o final do dia, eu me limitava a no máximo uma hora. O caminho ate a neonatal era longo, os corredores do hospital pareciam nunca acabar. Eu os percorria olhando para baixo, pedindo para que encontrasse boas noticias. A neonatal era, como esperado, silenciosa, fato que fazia os alarmes dos aparelhos ainda mais ensurdecedores. Na maioria das vezes, passava mais tempo olhando para os números e aparelhos do que para as próprias meninas. Oxímetro, CPAP, monitores... proviam vida para as meninas ao mesmo tempo que tiravam um pouco da nossa.
Já não contávamos mais o tempo em dias, mas em gramas. Trinta delas (e apenas 30) faziam do dia um ótimo dia.
Desde o começo soubemos que a situação não era a mesma para ambas meninas. Nesse meio tempo, ao me informar sobre os prognósticos de uma gestação interrompida com 27 semanas, sentia uma angustia que extrapolava para a parte física.
Cada medico tinha o seu próprio jeito de nos deixar informados, alguns sérios e pragmáticos, outros mais extrovertidos. Os dias se dividiam em antes e depois da conversa com eles; boas noticias nos garantiam pelo menos 24 horas de tranquilidade.
Olhar pelo vidro da incubadora era como assistir a gestação que nao acabara. Raras vezes elas abriam os olhos mas, mesmo ali fora aonde nao deveriam estar, nao conseguiam nos enxergar.
Assim se passaram os dias, sem que nos nao imaginássemos tudo que estava por vir...